quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Roda de Conversa sobre Indisciplinaridade no cuidado: Desafios e Competências

Olá pessoal tem muita coisa boa e nova acontecendo na residência e que eu deveria estar escrevendo, mas como eu ando supercorrida( e sempre uso e essa desculpa pra tudo) acabei não me dedicando tanto a esse portfólio virtual como eu gostaria, mas enfim, vamos fazer o que se pode ser feito.


No dia 09 de Outubro eu participei de uma mesa redonda pra fazer sobre o trabalho multidisciplinar na atenção básica. Fiquei super nervosa, a apresentação não ficou como eu gostaria, mas acho que compensou o esforço. E eu vou postar os vídeos, o poema lindo que nossa colega psicologa escreveu. Além disso, vou postar também o referencial teórico que me baseia para escrever a minha fala. Ok?
Então vamos lá aos vídeos
Eita, acabei de perceber  que apaguei os vídeos mas vou procurar e postar!!!



Olha o texto gente!!

Interdisciplinariedade no Cuidado: competências e desafios”

Boa tarde a todos
Fazer o rapport
Antes de falarmos sobre interdisciplinaridade, vamos fazer uma breve contextualização sobre a ciência psicológica no Brasil e na área da saúde pública. A presença da Psicologia brasileira nas instituições sociais ocorreu inicialmente no Século XIX, junto à Psiquiatria, ainda de maneira auxiliar à Medicina, numa perspectiva patologizante. Contudo, era necessária uma Psicologia comprometida com as mudanças sociais, propostas pela Psicologia Comunitária, além daquelas trazidas pelo processo de redemocratização do país, em oposição a um estado autoritário, de políticas assistencialistas.
A história da Psicologia no Brasil se confunde com a própria história do país, uma vez que as novas atuações das (os) psicólogas (os) os levam a participar de discussões sobre quais políticas públicas queremos, a favor do movimento da reforma sanitária e a implantação do SUS, momento ímpar tanto para o Brasil quanto para a Psicologia. Esse compromisso social da Psicologia também levou a uma importante discussão em nosso país pelo fim dos manicômios (a reforma psiquiátrica), compreendendo que a loucura é um fato social e que os melhores resultados nos tratamentos não estavam nos manicômios, mas sim no convívio social, rompendo a exclusão e propondo a inserção deste público no contexto social e familiar, com acompanhamento do Estado por meio de uma ampla rede de atenção.
Nesse processo de compromisso social, é necessária uma mudança, que vá além da grade curricular dos cursos de psicologia. Sendo necessária uma implicação política e o fomento desta em todos os campos de atuação do psicólogo. O processo de subjetivação é essencial para empoderamento do sujeito. No qual esse processo se trata da autonomia de pensamento em que o psicólogo pode/deve contribuir para tal, onde se constitui em um desafio para a profissão, mas que é possível de realizar.
Ainda sobre subjetivação entendemos que esse processo é marcado pela multiplicidade de desejos e afetos que atravessam os processos subjetivos, sempre perpassados por signos e símbolos, valores e normas de um determinado momento da sociedade.
Por muitos anos a atuação da psicologia se deu em contribuir para uma subjetividade construída por linhas duras, dicotomizantes detentoras de dualismos e binarismos, que contribuíram também para práticas medicalizantes e patologizantes. Com práticas engendradas, os comportamentos desviantes, os aspectos próprios da vida, como o envelhecimento, a morte e outros que se transformam em patologias devendo ser reprimidos, medicalizados e normalizados.
Sobre o processo de medicalização entendemos que é um processo de patologizar os fenômenos sociais e processos naturais dos ciclos de vida que podem adquirir diversos significados psicológicos, existenciais, morais, políticos e sociais.
Por exemplo é possível encontrar a nossa rotina de trabalho,enquanto residente, práticas e fazeres que patologizam processos próprios da vida como por exemplo, luto ou tristeza. É comum o profissional psicólogo receber nos espaços em saúde “referências” dessa natureza, exemplos como esses dicotomizam o sujeito.
Dentro dos espaços de saúde como o Nasf por exemplo, o papel do psicólogo também é mostrar a necessidade de ver o sujeito como um ser biopsicossocial e que suas diversas vertentes são integradas, desmistificando a loucura, considerando que todos nos passamos por diversas experiências, que são percebidas de formas diferentes e também nos afetam de formas diferentes. Por isso se faz necessário a integração de profissionais dentro de um serviço de saúde para de diversas formas compreender e possibilitar a promoção da autonomia do sujeito e auxiliá-lo no enfrentamento de suas angustias e desafios.
Falando então em interdisciplinaridade, ela tem sido considerada por diversos autores como alternativa para se alcançar o desenvolvimento de um pensamento que responda pela complexidade que caracteriza o mundo atual, com seus desafios. Entre eles, encontram-se os condicionantes e determinantes de saúde. Um novo modelo de atenção à saúde tem sido proposto e para isso são necessárias mudanças no sistema de formação dos profissionais de saúde.
No campo científico, a interdisciplinaridade equivale à necessidade de superar a visão fragmentada e dicotômica da produção de conhecimento e de articular as inúmeras partes que compõem os conhecimentos da humanidade.
Nesse contexto a contribuição da psicologia no SUS, se dá por meio de três princípios: Principio da inseparabilidade, se tomamos a psicologia como campo de saber voltado para os estudos da subjetividade e se esta é entendida como processo coletivo de produção, é impossível separa ainda que distinções haja, a clínica da política, o indivíduo do social, o singular do coletivo; os modos de cuidar dos modos de gerir; a macro e a micropolítico.
Outro princípio muito importante é o princípio da autonomia e da corresponsabilidade, entendemos também é impossível se pensar em práticas dos psicólogos que não estejam imediatamente comprometidas com o mundo, com o país que vivemos, com as condições de vida da população de saúde, que implique a produção de sujeitos autônomos, protagonistas, copartícipes e corresponsáveis por suas vidas.
E por último o princípio da transversalidade, entendendo que a psicologia se dá numa relação de intercessão com outros saberes/poderes/disciplinas.
Entendemos, pois, que a participação da psicologia na área da saúde, no panorama atual:
  • Não deverá se constituir em mais um campo específico de saber;
  • Deverá promover a interdisciplinaridade na compreensão do homem que vivência o processo saúde/doença;
    • Proporcionar a não alienação do sujeito coletivo no processo Saúde-Doença;
    • Não exclusão de seu ambiente social uma vez que a vida social é fator importante no processo de ressignificação.
    • Promover uma interdisciplinaridade que contribua para a superação de diferenças substanciais entre diferentes disciplinas quanto aos critérios de saúde, ideologia, linguagem técnica, modelos de ação, objetivos e enquadres, diferenças que têm conduzido a divergências quanto ao enfoque do registro, da priorização e da interpretação dos dados no que diz respeito "ao estar doente", "a cura" e "ao ter saúde". Assim, a Psicologia atua com foco na atenção, promoção, prevenção de saúde, não apenas nos casos de doença, mas nas ações que visam melhoria da qualidade de vida.
Trabalhar de forma transdisciplinar é em si um desafio para os profissionais de psicologia. Lembro-me que quando concluir a formação a expectativa que tinha sobre a atuação do psicólogo no sus se limitava ao atendimento clínico assistencial, com atuações pautados numa lógica hospitalocetricas, prontos para reproduzir o que foi formatado na graduação, dizendo o que é certo ou errado.
A prática no Nasf nos fez refletir o quanto é importante ter uma prática transdisciplinar, pois muitos vezes em uma discussão de caso ou durante a elaboração de um PST, de forma engendrada nos percebemos preocupados em dar uma reposta lógica e curativa para um determinado problema, em especial em se esse considerado problema se refere ao saber que devemos saber. Uma prática transdisciplinar possibilita uma articulação entre as disciplinas, saberes e práticas, desestabilizando as relações de poder, os campos de saber e as especialidades, convocando assim formas de intervenção potencializadoras e inventiva. 

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