quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cuidado

Cuidado

O que penso?
Como penso?
O que sinto?
O que faço?

Pergunta-me o processo de subjetivação...
Esse senhor palavrão, que me obriga a ser!
Seja indivíduo, seja sociedade
Seja!

E se sou triste...
Chama o psicólogo!

Extra! Extra! Extra! Chama aqui também na promoção!
Na promoção da saúde... E leve seu produto com cuidado

Porque a crise chegou até na patologização,
De modo, que dar doenças aos outros também virou doença!
A qual se deu o nome de alienação.
                                 
Psicótico, louco, sofredor, marginalizado...
Livre, artista, feliz...
São muitos rótulos para uma estranheza só!

Que não me cabe, não me diz, não me escuta, não me acolhe,
Nem a mim, nem ao meu gole,
Que dirá ao meu trago, minha complexidade e o meu pó!

CUIDADO!
CUIDADO!

Assim, como organizar as ideias pra fazer uma poesia, o resultado é uma dissertação...
Afogar os loucos, ou não, em remédios e rótulos
É privar o outro da expressão de sua própria existência.

Roda de Conversa sobre Indisciplinaridade no cuidado: Desafios e Competências

Olá pessoal tem muita coisa boa e nova acontecendo na residência e que eu deveria estar escrevendo, mas como eu ando supercorrida( e sempre uso e essa desculpa pra tudo) acabei não me dedicando tanto a esse portfólio virtual como eu gostaria, mas enfim, vamos fazer o que se pode ser feito.


No dia 09 de Outubro eu participei de uma mesa redonda pra fazer sobre o trabalho multidisciplinar na atenção básica. Fiquei super nervosa, a apresentação não ficou como eu gostaria, mas acho que compensou o esforço. E eu vou postar os vídeos, o poema lindo que nossa colega psicologa escreveu. Além disso, vou postar também o referencial teórico que me baseia para escrever a minha fala. Ok?
Então vamos lá aos vídeos
Eita, acabei de perceber  que apaguei os vídeos mas vou procurar e postar!!!



Olha o texto gente!!

Interdisciplinariedade no Cuidado: competências e desafios”

Boa tarde a todos
Fazer o rapport
Antes de falarmos sobre interdisciplinaridade, vamos fazer uma breve contextualização sobre a ciência psicológica no Brasil e na área da saúde pública. A presença da Psicologia brasileira nas instituições sociais ocorreu inicialmente no Século XIX, junto à Psiquiatria, ainda de maneira auxiliar à Medicina, numa perspectiva patologizante. Contudo, era necessária uma Psicologia comprometida com as mudanças sociais, propostas pela Psicologia Comunitária, além daquelas trazidas pelo processo de redemocratização do país, em oposição a um estado autoritário, de políticas assistencialistas.
A história da Psicologia no Brasil se confunde com a própria história do país, uma vez que as novas atuações das (os) psicólogas (os) os levam a participar de discussões sobre quais políticas públicas queremos, a favor do movimento da reforma sanitária e a implantação do SUS, momento ímpar tanto para o Brasil quanto para a Psicologia. Esse compromisso social da Psicologia também levou a uma importante discussão em nosso país pelo fim dos manicômios (a reforma psiquiátrica), compreendendo que a loucura é um fato social e que os melhores resultados nos tratamentos não estavam nos manicômios, mas sim no convívio social, rompendo a exclusão e propondo a inserção deste público no contexto social e familiar, com acompanhamento do Estado por meio de uma ampla rede de atenção.
Nesse processo de compromisso social, é necessária uma mudança, que vá além da grade curricular dos cursos de psicologia. Sendo necessária uma implicação política e o fomento desta em todos os campos de atuação do psicólogo. O processo de subjetivação é essencial para empoderamento do sujeito. No qual esse processo se trata da autonomia de pensamento em que o psicólogo pode/deve contribuir para tal, onde se constitui em um desafio para a profissão, mas que é possível de realizar.
Ainda sobre subjetivação entendemos que esse processo é marcado pela multiplicidade de desejos e afetos que atravessam os processos subjetivos, sempre perpassados por signos e símbolos, valores e normas de um determinado momento da sociedade.
Por muitos anos a atuação da psicologia se deu em contribuir para uma subjetividade construída por linhas duras, dicotomizantes detentoras de dualismos e binarismos, que contribuíram também para práticas medicalizantes e patologizantes. Com práticas engendradas, os comportamentos desviantes, os aspectos próprios da vida, como o envelhecimento, a morte e outros que se transformam em patologias devendo ser reprimidos, medicalizados e normalizados.
Sobre o processo de medicalização entendemos que é um processo de patologizar os fenômenos sociais e processos naturais dos ciclos de vida que podem adquirir diversos significados psicológicos, existenciais, morais, políticos e sociais.
Por exemplo é possível encontrar a nossa rotina de trabalho,enquanto residente, práticas e fazeres que patologizam processos próprios da vida como por exemplo, luto ou tristeza. É comum o profissional psicólogo receber nos espaços em saúde “referências” dessa natureza, exemplos como esses dicotomizam o sujeito.
Dentro dos espaços de saúde como o Nasf por exemplo, o papel do psicólogo também é mostrar a necessidade de ver o sujeito como um ser biopsicossocial e que suas diversas vertentes são integradas, desmistificando a loucura, considerando que todos nos passamos por diversas experiências, que são percebidas de formas diferentes e também nos afetam de formas diferentes. Por isso se faz necessário a integração de profissionais dentro de um serviço de saúde para de diversas formas compreender e possibilitar a promoção da autonomia do sujeito e auxiliá-lo no enfrentamento de suas angustias e desafios.
Falando então em interdisciplinaridade, ela tem sido considerada por diversos autores como alternativa para se alcançar o desenvolvimento de um pensamento que responda pela complexidade que caracteriza o mundo atual, com seus desafios. Entre eles, encontram-se os condicionantes e determinantes de saúde. Um novo modelo de atenção à saúde tem sido proposto e para isso são necessárias mudanças no sistema de formação dos profissionais de saúde.
No campo científico, a interdisciplinaridade equivale à necessidade de superar a visão fragmentada e dicotômica da produção de conhecimento e de articular as inúmeras partes que compõem os conhecimentos da humanidade.
Nesse contexto a contribuição da psicologia no SUS, se dá por meio de três princípios: Principio da inseparabilidade, se tomamos a psicologia como campo de saber voltado para os estudos da subjetividade e se esta é entendida como processo coletivo de produção, é impossível separa ainda que distinções haja, a clínica da política, o indivíduo do social, o singular do coletivo; os modos de cuidar dos modos de gerir; a macro e a micropolítico.
Outro princípio muito importante é o princípio da autonomia e da corresponsabilidade, entendemos também é impossível se pensar em práticas dos psicólogos que não estejam imediatamente comprometidas com o mundo, com o país que vivemos, com as condições de vida da população de saúde, que implique a produção de sujeitos autônomos, protagonistas, copartícipes e corresponsáveis por suas vidas.
E por último o princípio da transversalidade, entendendo que a psicologia se dá numa relação de intercessão com outros saberes/poderes/disciplinas.
Entendemos, pois, que a participação da psicologia na área da saúde, no panorama atual:
  • Não deverá se constituir em mais um campo específico de saber;
  • Deverá promover a interdisciplinaridade na compreensão do homem que vivência o processo saúde/doença;
    • Proporcionar a não alienação do sujeito coletivo no processo Saúde-Doença;
    • Não exclusão de seu ambiente social uma vez que a vida social é fator importante no processo de ressignificação.
    • Promover uma interdisciplinaridade que contribua para a superação de diferenças substanciais entre diferentes disciplinas quanto aos critérios de saúde, ideologia, linguagem técnica, modelos de ação, objetivos e enquadres, diferenças que têm conduzido a divergências quanto ao enfoque do registro, da priorização e da interpretação dos dados no que diz respeito "ao estar doente", "a cura" e "ao ter saúde". Assim, a Psicologia atua com foco na atenção, promoção, prevenção de saúde, não apenas nos casos de doença, mas nas ações que visam melhoria da qualidade de vida.
Trabalhar de forma transdisciplinar é em si um desafio para os profissionais de psicologia. Lembro-me que quando concluir a formação a expectativa que tinha sobre a atuação do psicólogo no sus se limitava ao atendimento clínico assistencial, com atuações pautados numa lógica hospitalocetricas, prontos para reproduzir o que foi formatado na graduação, dizendo o que é certo ou errado.
A prática no Nasf nos fez refletir o quanto é importante ter uma prática transdisciplinar, pois muitos vezes em uma discussão de caso ou durante a elaboração de um PST, de forma engendrada nos percebemos preocupados em dar uma reposta lógica e curativa para um determinado problema, em especial em se esse considerado problema se refere ao saber que devemos saber. Uma prática transdisciplinar possibilita uma articulação entre as disciplinas, saberes e práticas, desestabilizando as relações de poder, os campos de saber e as especialidades, convocando assim formas de intervenção potencializadoras e inventiva.